sexta-feira, 19 de abril de 2013

Relatório Preliminar da etapa Diagnóstico do Plano Municipal de Cultura










                                                                                  

RELATÓRIO PRELIMINAR DA
 ETAPA DE DIAGNÓSTICO DA CULTURA DE ANÁPOLIS





Texto apresentado ao 37º Fórum Permanente de Cultura de Anápolis, no dia 20 de maio de 2013.





























Anápolis – abril de 2013.



Nota Preliminar



O presente texto está em processo de elaboração, aberto à consulta pública e à contribuições.




HISTÓRICO DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DA CULTURA NO MUNICÍPIO DE ANÁPOLIS


Entende-se por institucionalização da cultura as ações do poder público que têm por objetivo o desenvolvimento cultural da sociedade. Segundo a Constituição Federal de 1988 é dever do Estado garantir a todos os seus cidadãos o acesso aos Direitos Culturais. Para a garantia desse acesso cabe ao Estado o papel de planejar e fomentar as atividades culturais, de preservar o patrimônio cultural material e imaterial e de criar marcos legais que regulem a economia da cultura, considerando o interesse público e o respeito à diversidade cultural, bem como à participação da sociedade civil nos processos de organização da cultura. Todas estas atribuições do Estado em relação à institucionalização da cultura estão expressas nos artigos 215 e 216 da Constituição Federal.

A organização do campo cultural no município de Anápolis teve suas primeiras iniciativas na década de 1970. Com a criação da Fundação Educacional e Cultural de Anápolis (FECA), e, posteriormente, da Fundação Municipal de Esporte e Cultura (FUMEC), pode-se dizer que o Poder Público começa a institucionalizar a cultura em Anápolis. Em 1982 foi criado um primeiro Conselho de Cultura. Entretanto, a criação deste estava ligada diretamente ao poder executivo, não caracterizando uma participação popular em sua composição e em seu gerenciamento que pudesse contribuir com a institucionalização das políticas públicas para a cultura de forma mais democrática.

Somente em meados dos anos 2000, através da Lei Municipal nº 331/2004, cria-se o Conselho Municipal de Cultura de Anápolis (CMC), revogando, assim, a lei anterior. Contudo, apesar da criação desta entidade, a mesma não foi regulamentada, de forma que o Conselho não foi efetivamente constituído, o que ocorreu somente em 2009, quando foram empossados seus 28 membros conselheiros, por meio do Decreto de Nomeação assinado pelo prefeito Antonio Roberto Otoni Gomide.

A constituição do CMC, naquele ano de 2009, foi o resultado da rearticulação política do segmento cultural da cidade, encabeçada pela Diretoria Municipal de Cultura, sob a gestão de Augusto César de Almeida. Esta diretoria, àquela época, era vinculada à Secretaria Municipal de Educação Ciência e Tecnologia, instituída em 2006, e que viria a se tornar, no ano de 2010, a Secretaria Municipal de Cultura. Esta rearticulação gerou outros fatos importantes para a institucionalização da cultura no município, a partir da realização de uma série de fóruns com a participação substantiva de representantes de todas as áreas da cultura. A culminância desses fóruns foi a 1º Conferência Municipal de Cultura de Anápolis, realizada em 02 de novembro de 2009. Nesta conferência foram eleitos os primeiros Conselheiros do CMC e também a delegação de 25 representantes do município para participarem da 1ª Conferência Estadual de Cultura, realizada em Goiânia, em dezembro do mesmo ano.



Organograma da extinta Secretaria Municipal de Educação, Ciência e Tecnologia.
 





Em 2010 a diretoria de Cultura é transformada em Secretaria Municipal de Cultura, através da Lei Complementar Municipal nº 230 de 29 de junho de 2010, atendendo a reivindicação dos segmentos culturais da cidade. Com uma maior autonomia administrativa e orçamentária foram realizadas várias atividades de fomento e difusão da cultura no município. Além da gestão das unidades culturais[1] cujo objetivo é promover o ensino básico nas várias linguagens artísticas e a preservar o patrimônio material e imaterial, a Secretaria de Cultura promoveu, no âmbito do fomento às práticas culturais e artísticas, a criação do Programa Cultura Para Todos que articula uma série de ações artísticas e culturais nos bairros periféricos da cidade. Entre essas ações destacam-se o Pontão de Cultura Tenda Jovem, o Projeto Cidadãos do Futuro, o projeto Cultura e Cidadania e o Projeto Mãos que Ajudam.


No que diz respeito à difusão cultural e artística, além da manutenção do calendário cultural e tradicional do município, tais como a realização do Encontro Nacional de Coros, o Salão Anapolino de Artes e a Mostra de Teatro de Anápolis, foram criados outros eventos, que vem impulsionando o desenvolvimento cultural. Dentre estes eventos destacam-se o Festival de Cinema, o Festival de Música de Anápolis, o Festival de Catira e Viola, a Semana Digiarte, o Encontro de Folias, o Sarau Cultural, a Bolsa Literária João Luiz de Oliveira, Semana da Consciência Negra e Alto de Natal. Além desses eventos, a Secretaria de Cultura, sob a gestão de Augusto César de Almeida, apoiou várias edições de eventos organizados por meio da iniciativa de entidades civis e culturais, tais como o Encontro de Palhaços, o Festival de Hip-Hop Motriz e o Festival de Música Instrumental de Anápolis (FEMA).

Em 2011, outro importante avanço no processo de institucionalização da cultura foi a criação do Fundo Municipal de Cultura, instituído pela Lei Complementar Municipal nº 259 de 23 de novembro de 2011. O Fundo, conforme estabelece a lei, é repassado a projetos de iniciativa da sociedade civil e pública, sendo que à primeira é destinado 60% dos recursos previstos, à segunda 39%, e 1% restante para a operacionalização do próprio fundo.

Ainda em 2011 foi realizada a 2ª Conferência Municipal de Cultura de Anápolis, em que participaram cerca de 300 pessoas envolvidas com a cultura e as artes do município. Nessa conferência foi eleita a segunda gestão do Conselho Municipal de Cultura de Anápolis com a incumbência de elaborar o Plano Municipal de Cultura, com vistas a definir as diretrizes, metas e ações para a cultura nos próximos 10 anos.

Ao final do ano de 2011 a institucionalização da cultura em Anápolis ganha mais força com a adesão do município ao Sistema Nacional de Cultura, por meio da assinatura do Pacto Federativo. Este documento implica a implementação do Sistema Municipal de Cultura, com a formalização de seus cinco componentes obrigatórios, quais sejam: fundação do órgão da Secretaria de Cultura, criação do Conselho Municipal de Cultura, realização de fóruns e conferências municipais, instituição do Fundo Municipal de Cultura, e o compromisso de elaborar, até 2013, o Plano Municipal de Cultura.

Ressalta-se que, desde 2009, o município tem sido representado nas conferências Estadual e Nacional e conta ainda com representação no Fórum dos Conselhos Municipais de Cultura do Estado de Goiás, tendo como presidente um representante da cultura e artes de Anápolis.

Ao analisar o processo de institucionalização pelo qual a cultura em Anápolis historicamente tem vivenciado, desde o primeiro ato, nesta direção, do Poder Público municipal ao instituir em 1942 a Banda Lira de Prata, até a criação do Fundo Estadual de Cultura em 2011, pode-se observar que, este processo, do ponto de vista de seus marcos e dispositivos legais, é marcado por três dimensões da cultura, quais sejam: a dimensão simbólica, a dimensão cidadã e a dimensão econômica. Estas dimensões são consideradas na formulação da Política Nacional de Cultura, desenvolvida pelo Governo Federal, através do Ministério da Cultura, desde o ano de 2002 até os dias atuais.


Buscando o alinhamento com a Política Nacional de Cultura, dada a sua estratégia de implementação para que se faça cumprir o dever do Estado em relação aos Direitos Culturais, o poder público municipal, marcadamente entre os anos de 2009 a 2013, inicia o processo de instituição dos principais componentes que integram o Sistema Municipal de Cultura, cuja implementação está pactuada com a União através de sua integração ao Sistema Nacional de Cultura.


Componentes do Sistema de Cultura formam o conjunto de dispositivos legais que tem o objetivo de organizar a dimensão cultural da sociedade, para garantir o acesso do cidadão aos direitos culturais.
 






O Sistema Nacional de Cultura, conforme propõe a política cultural do Ministério da Cultura, “é um conjunto que reúne a sociedade civil e os entes federativos – União, Estados, Municípios e o Distrito Federal – com seus respectivos Sistemas de Cultura.”[2].

Estrutura do Sistema Nacional de Cultura
 


No atual momento encontra-se em processo de elaboração o Plano Municipal de Cultura. A construção do plano tem se realizado por meio de reuniões e fóruns com representantes do poder público e da sociedade civil, através da Secretaria Municipal de Cultura e Conselho Municipal de Cultura de Anápolis conforme plano de trabalho a ser descrito a seguir.


ELABORAÇÃO DO PLANO MUNICIPAL DE CULTURA
                                                 ETAPA DIAGNÓSTICO


O Plano Municipal de Cultura é um instrumento de planejamento estratégico, de duração decenal, que organiza, regula e norteia a execução da Política Municipal de Cultura. Sua elaboração deve considerar os seguintes conteúdos: diagnóstico; objetivos, diretrizes e prioridades; estratégias, metas e ações; prazos de execução; resultados e impactos esperados; recursos materiais, humanos e financeiros disponíveis e necessários; mecanismos e fontes de financiamento; e indicadores de monitoramento e avaliação. A elaboração do Plano Municipal de Cultura deve ser oriunda das diretrizes dos fóruns e conferências de cultura, cabendo à Secretaria de Cultura e ao Conselho Municipal de Cultura a iniciativa de sistematiza-lo contando com a ampla participação da sociedade.

O processo de elaboração do Plano Municipal de Cultura foi iniciado em maio de 2012, quando foi realizado o 28º Fórum Permanente de Cultura, seguido de uma série de outros fóruns e reuniões do Conselho Municipal de Cultura. Nesses fóruns e reuniões foram definidas e distribuídas uma série de tarefas visando à pesquisa que subsidiaria a elaboração da etapa do diagnóstico do plano.

A metodologia do trabalho de diagnosticar a cultura Anapolina compreendeu três fases, sendo a primeira a mobilização dos segmentos culturais, a segunda correspondeu ao levantamento de dados por meio de aplicação de questionários, levantamento de bibliografias e de leis municipais relacionadas à cultura e organização e análise dos dados pesquisados.

A análise dos dados a serem apresentados a seguir teve como recorte metodológico a tridimensionalidade da cultura, ou seja, as dimensões simbólica, cidadã e econômica, conforme as diretrizes do Sistema Nacional de Cultura que assim define tais dimensões:


Dimensão Simbólica: o aspecto da cultura que considera que todos os seres humanos tem a capacidade de criar símbolos;
Dimensão Cidadã: o aspecto da cultura que a entende como um direito básico do cidadão;
Dimensão Econômica: o aspecto da cultura como vetor econômico.[3]







Dimensão Simbólica
Diversidade das expressões artísticas e culturais
Quantidade de linguagens
13
Quantidade de grupos artísticos
306
Quantidade de eventos
27
Quantidade de entidades culturais
17
Quantidade de artistas
3493

Tabela 1
 


A dimensão simbólica da cultura corresponde à diversidade das manifestações artísticas e inclui “entre os bens de natureza material e imaterial que constitui o patrimônio cultural inclui todos os modos de viver, fazer e criar dos diferentes grupos formadores da sociedade.”[4]


Em Anápolis pode-se identificar que a diversidade cultural está contemplada, considerando as 13 linguagens e ou expressões desenvolvidas no município, sendo: música, artes plásticas, dança, teatro, audiovisual, livro e literatura, artesanato, hip-hop, folia, catira, capoeira. Estas linguagens são expressas em boa quantidade de grupos artísticos e de eventos culturais. No âmbito das entidades promotoras de cultura observa-se a presença de 17 entidades voltadas especificamente para a produção cultural. E num universo populacional de 352 mil habitantes, 3493 são artistas.



Dimensão Cidadã
Acessibilidade, produção, difusão, fruição, formação e participação social
Quantos acessam gratuitamente por ano
180 mil por ano
Quantos acessam pagando por ano
40.200 por ano
Quais expressões mais acessadas
Música e dança
Quantos alunos matriculados
2700
Quantos equipamentos de cultura
53
Quantos programas e projetos que promovem o acesso
30
Atividades, programas e entidades de formação
77
Tabela 2

A dimensão cidadã da cultura compreende o direito à participação na vida cultural e está assegurado no município por meio de iniciativas tanto do poder público como da sociedade civil organizada. Observa-se que os aspectos dessa dimensão, quais sejam, acessibilidade, produção, difusão, fruição, formação e participação social estão contemplados, conforme indica a tabela 2.



Dimensão Econômica
Desenvolvimento sustentável da cultura
Quantos vivem da arte
126
Quantos estabelecimentos comerciais
113
Feiras de exposição e venda
03
Mecanismos de Financiamento Público Municipal
01 (fundo municipal )
Mecanismo de financiamento estadual
01
Mecanismo de financiamento Nacional
02
Mecanismos de financiamento privado
00
Tabela 3

No que diz respeito à dimensão econômica, compreendida por meio de três formas, quais sejam, “1) como sistema de produção materializado em cadeias produtivas; 2) como elemento estratégico da nova economia e 3) como um conjunto de valores e práticas que tem como referência a identidade e a diversidade cultural, possibilitando compatibilizar modernização e desenvolvimento humano” [5], pode-se perceber que o município carece de um maior desempenho para que se garanta satisfatoriamente a geração de trabalho e renda no campo da produção cultural.



CONSIDERAÇÕES FINAIS PRELIMINARES DA ELABORAÇÃO DO PLANO – ETAPA DIAGNÓSTICO


O trabalho de levantamento de dados sobre a cultura em Anápolis leva-nos há uma compreensão de que o município contempla a diversidade cultural de forma ampla. No aspecto da acessibilidade a cidade carece ainda de mais espaços que possam garantir aos cidadãos o acesso aos bens culturais de forma plena, embora sejam identificados espaços, programas, ações, projetos e eventos voltados para todas as áreas da expressão simbólica. Mas, é na dimensão econômica que os indicadores são ainda baixos, pra não dizer inexpressivo, devendo ser dado grande atenção na formulação de políticas que possam impulsionar a cadeia produtiva.

A próxima etapa de elaboração do plano consistirá em definir os objetivos e diretrizes do segmento cultural do município. Esta etapa deverá ser elaborada com a ampla participação da sociedade civil, visando abarcar todas as dimensões da cultura para que possam ser definidas as metas e ações que irão organizar o segmento para os próximos dez anos, independente dos grupos que estiverem no ofício de governar o município.

Após a etapa de elaboração do Plano Municipal de Cultura o texto final será levado à plenária da 3ª Conferência Municipal de Cultura, programada para o mês de junho de 2013. Sendo referendado pela plenária, o mesmo segue para a Câmara Municipal, para que seja aprovado como lei. Instituída a lei do Plano Municipal de Cultura, o próximo passo é a elaboração do projeto de lei de criação do Sistema Municipal de Cultura que integrará todos os componentes legais já instituídos, cumprindo, assim, o Pacto Federativo firmado entre o Ministério da Cultura e a Prefeitura de Anápolis com vistas ao desenvolvimento cultural do município.




BIBLIOGRAFIA

POLONIAL, Juscelino. Terra do Anhanguera: história de Goiás, 2ª ed. – Goiânia: Kelps, 2012.

CULTURA, Ministério. Estruturação, Institucionalização e implementação do SNC”, Ministério da Cultura, 2011

HEIDEMANN, Francisco G. e SALM, José Francisco. Políticas públicas e desenvolvimento: bases epistemológicas e modelos de análise. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2ª Edição, 2010.

RUBIN, Antonio Albino Canelas; FERNANDES, Tatiane e RUBIN, Iuri. Políticas Culturais, democracia e conselhos de cultura, Salvador: EDUFBA, 2010.

CULTURA, Ministério. As metas do Plano Nacional de Cultura”, Brasil, São Paulo: Instituto Via Pública; Brasília: MinC, 2012.

CULTURA, Ministério. Guia de Orientações para os Municípios – Perguntas e Respostas, Sistema Nacional de Cultura Dezembro de 2012.


LISTA DE ABREVIATURAS RELACIONADAS AO TEMA DA INSTITUCIONALIZAÇÃO DA CULTURA

MinC : Ministério de Estado da Cultura
SeCult: Secretaria Estadual de Cultura
SeMuC: Secretaria Municipal de Cultura
CNPC: Conselho Nacional de Política Cultural
CEC: Conselho Estadual de Cultura
CMC: Conselho Municipal de Cultura
SNC: Sistema Nacional de Cultura
SEC: Sistema Estadual de Cultura
SMC: Sistema Municipal de Cultura
FNC: Fundo Nacional de Cultura
FEC: Fundo Estadual de Cultura
FMC: Fundo Municipal de Cultura
SNIC: Sistema Nacional de Informações e Indicadores Culturais
PNC: Plano Nacional de Cultura
PEC: Plano Estadual de Cultura
PMC: Plano Municipal de Cultura
CF: Constituição Federal





[1] São unidades culturais vinculadas à Secretaria Municipal de Cultura os seguintes órgãos: Banda Lira de Prata, Escola de Música Maestro Antônio Branco, Escola de Artes Oswaldo Verano, Escola de Dança de Anápolis, Escola de Teatro de Anápolis, Museu Histórico de Anápolis, Teatro Municipal de Anápolis, Corpo de Baile, Orquetra Jovem, Companhia Anapolina de Teatro, Galeria de Arte Antonio Sibasolly, e Museu de Arte Loures.
[2] Guia de Orientações para os Municípios – Perguntas e Respostas, Dezembro de 2012 – Sistema Nacional de Cultura, p. 24.
[3] Estraído da publicação “As metas do Plano Nacional de Cultura”, Brasil, São Paulo: Instituto Via Pública; Brasília: MinC, 2012.
[4] Extraído da publicação “Estruturação, Institucionalização e implementação do SNC”, Ministério da Cultura, 2011, p. 33.
[5] Idem, p. 35

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